Antes de 2019 acabar, sinto que
devo registrar alguns apontamentos sobre a maior obra de Katsuhiro Otomo: refiro-me à série mangá e ao anime Akira.
É espantoso, mas durante este ano reacendeu em mim um forte interesse por Akira; sim, espantoso, pois a história escrita
por Otomo se passa exatamente em 2019, e eu não me lembrava disso.
Comecemos com um pouco de
nostalgia (o que não é nada inoportuno, considerando a forte carga nostálgica
que recai sobre os dois personagens centrais, Kaneda e Tetsuo). Provavelmente,
assisti pela primeira vez ao Akira em
algum momento do ano de 1992, se levarmos em conta que a primeira edição que adquiri do
mangá, então publicado por aqui pela editora Globo, é a de número 18, datada de
junho de 1992, e eu comecei a comprar as revistas após assistir à animação. Se me lembro bem, comecei a colecionar o mangá quase imediatamente após
assistir ao filme, talvez com poucos meses de intervalo. É difícil lembrar.
Afinal, em junho de 1992 eu ainda tinha 6 anos. Mas curiosamente, lembro-me do
exato momento em que minha mãe alugou o VHS pra mim, por indicação do
balconista da vídeo-locadora. Eu estava indeciso sobre qual filme alugaria (eu
sempre ficava indeciso). Foi quando o balconista apontou para o pôster estampado na
parede do ambiente, e que trazia aquela que se tornou a icônica imagem de
Kaneda segurando o rifle laser. “Já assistiu esse? Esse é bom”, disse-me o
balconista. Concordei em levá-lo. Em retrospecto, a indicação do balconista
parece loucura ou sarcasmo. Pois definitivamente Akira não é para crianças de
6 anos. Enquanto assistíamos, minha mãe percebeu isso. Lembro-me que ela odiou.
“Quem afinal de contas é esse Akira?”; “não entendi nada”; “que desenho
esquisito, violento”... estas foram algumas críticas que ouvi da minha mãe
enquanto nosso videocassete rodava o VHS.
Mas, surpreendentemente, seu adorei. Eu gostei das cenas de ação,
das motos, das luzes da cidade, da trilha sonora, do conflito entre Kaneda e
Tetsuo e, principalmente (embora eu fosse incapaz de articular isso na época)
pelo fato de que Akira não era um filme
autoexplicativo. Havia espaço ali para descobertas, interpretações. No dia
seguinte, revi o filme, desta vez desacompanhado. Eu queria descobrir o
que era o tal Akira. Obviamente, não consegui. Por isso, revisitei-o mais um sem número
de vezes naquele período de intenso frenesi (que possivelmente se arrastou para
o ano de 1993 também), inclusive locando o mesmo filme várias vezes. Como já
mencionei, também comecei a colecionar no mesmo período o mangá, cujos
fascículos eu comprei (ou melhor, meu pai comprou) religiosamente do n. 18 até
o n. 32 (depois do 32, não chegou mais nenhum na banca de revistas da minha
cidade). Afinal, eu precisava entender o significado por trás do garoto Akira, e também queria
acompanhar a interação entre os amigos/rivais Kaneda e Tetsuo. Sim,
considerando que eu realmente lia e relia os fascículos de Akira, e que tanto o filme quanto o mangá provocavam em mim um
agradável sentimento de assombro diante de um mistério que precisava solucionar
(repito: um sentimento totalmente inarticulável para mim naquela época), e o
fascínio pela personalidade dos personagens, então pode-se dizer que Katsuhiro
Otomo forneceu-me minha primeira experiência literária e filosófica. Agradeço-o
por isso, Sr. Otomo. (Hoje ocupo-me profissionalmente da Filosofia. Acreditem:
ler Akira aos 6 ou 7 anos não é muito diferente de ler Husserl ou Kant aos 34. Talvez
Katsuhiro Otomo tenha me influenciado num nível ainda mais profundo do que
posso conceber).
O primeiro fascículo que adquiri de Akira, em 1992, e que guardo com muito zelo até os dias de hoje.
A arracionalidade fundamental da existência humana
Mas há mensagens em Akira que só podem ser propriamente compreendidas obtendo-se certa dose de maturidade.
Uma mensagem deste tipo é uma que
parece-me ser quase uma tese metafísica do Otomo sobre a força primordial que
conduz a vida. Isso fica mais claro nos últimos números de Akira (em especial, nos números 36 e 37, que só tive o prazer de
ler recentemente). Akira apresenta
uma tese filosófica sobre a vida em geral, e sobre a humanidade em especial:
esta, a humanidade, é um desdobramento específico de uma força originária muita
mais universal, uma força que tem se expandido desde a aurora dos tempos. Em um
primeiro momento, esta força é em si irracional, é apenas um ímpeto de expansão
de si mesma e, em sua cegueira, tanto cria quanto destrói. É por isso que ao
ser dominado pela mesma, o corpo de Tetsuo adquire uma forma monstruosa, mas
que também se assemelha a um bebê, como se estivesse destituído de qualquer Ego
ou racionalidade, reduzindo-se a um ímpeto voraz pela vida. Esta
interpretação é fortalecida pelo fato de que, ao dirigir-se ao templo de Lady
Miyako em busca de ajuda, Tetsuo torna-se rapidamente violento quando atacado pela monja paranormal, o que denota a predominância dos instintos sobre qualquer reflexão em
seu comportamento. Em poucas palavras, aquela força que se apossa de Tetsuo e
que era incrivelmente poderosa no garoto Akira corresponderia mais ou menos
àquilo que Arthur Schopenhauer chamou de “vontade de vida”.
Mas também é explicado por Miyako
a Kaneda que o caos e dificuldades gerados por Akira (ou, mais precisamente,
por este ímpeto que se expressa em maior medida no menino Akira) são
circunstâncias escolhidas para “promover a evolução da humanidade”. Pelo
diálogo entre Kaneda e Miyako, fica claro que Otomo supõe uma cisão entre as
escolhas individuais e as escolhas desta força, deste ímpeto, que por sua vez
corresponde ao gênero humano. Kaneda argumenta que mesmo a evolução deve ser um
evento programado. Miyako responde que não se deve duvidar da capacidade do
espírito humano em escolher seu curso de desenvolvimento. Considerando que os
indivíduos em geral não podem fazer escolhas deste tipo (afinal, indivíduos só
fazem escolhas individuais, e não generalizadas; cada indivíduo não pode decidir por toda a espécie humana), então Miyako só pode estar se
referindo a uma escolha tomada por aquela força que expressa a humanidade em geral.
Mais uma vez, podemos nos servir
de Schopenhauer aqui, com sua distinção entre indivíduo e o gênio da espécie.
Este último faz escolhas pelo primeiro a todo momento, sem que o primeiro
esteja consciente disto (é o ocorre, por exemplo, no intercurso sexual. Para
Schopenhauer, o indivíduo em sã consciência jamais escolheria isso; mas o
caráter da espécie que habita no mais íntimo do indivíduo provoca nele uma
impulsão vital e inconsciente para o sexo). A diferença aparente entre Otomo e
Schopenhauer é a de que a força vital narrada por Otomo busca uma evolução, e
evolução pressupõe algum planejamento (em Schopenhauer não poderia haver
evolução). Logo, a força vital referida por Otomo não pode ser inteiramente irracional ou cega, mas precisa ser arracional, no sentido de que seus planos
e desígnios podem soar incompreensíveis à racionalidade humana, restrita a uma
perspectiva mais limitada ou circunstancial. O indivíduo vê na obra daquela
força apenas caos e irreflexão. Mas sob uma perspectiva absolutamente
abrangente, que enxerga o todo e não apenas as partes (isto é, sob o intelecto
divino), o resultado não seria o caos, mas a evolução. E evolução pressupõe
planejamento, finalidade. Toda evolução é teleológica. Afinal, só há coerência
em se falar de evolução quando uma determinada forma de vida transita de um
estágio inferior para um estágio superior.
E o critério para se definir o que é inferior ou superior é a assunção de uma
finalidade, uma meta a ser alcançada. Dizer que há evolução é dizer que estamos
caminhando para o melhor, que estamos
alcançando uma meta. Mas assumir uma meta ínsita à natureza também nos
conduz à ideia de uma inteligência ordenadora, um criador. Por isso escreve
Kant na Crítica do Juízo (B 335): “a
teleologia não encontra nenhuma conclusão última para as suas pesquisas senão
numa teologia”. Ah, estes evolucionistas... são tão criacionistas (sem sabê-lo,
é claro)!(1)
Decadência moral e artificialismo; o possível significado do símbolo da cápsula
Uma outra noção mais profunda em Akira é a própria temática Cyberpunk. O
gênero Cyberpunk tem um viés bastante contracultural, é verdade. E o mesmo vale
para Akira, com as suas imagens de
edifícios gigantescos e que denotam uma vida urbana noturna intensa, gangues de
motociclistas, a famosa jaqueta de Kaneda com a imagem da pílula nas costas (2), etc. Mas, curiosamente, à
rebelião estética contida no gênero Cyberpunk corresponde uma mensagem política
bastante conservadora. Pois Cyberpunk é sobre a miséria moral provocada pelo
progresso e pela tecnologia. Cyberpunk é pessimismo em relação ao progresso. E
como boa obra Cyberpunk, Akira também registra sua crítica implícita à vida
noturna intensa, à substituição do espírito pela matéria, à soberba da ciência,
etc., na medida em que também representa um mundo tomado pelo vazio espiritual
porque os impulsos hoje de fato presentes na contemporaneidade finalmente se
elevam, em Akira, a uma maior potência
e com isso se tornam mais explícitos. Isto fica claro sobretudo se considerarmos a
juventude retratada por Otomo. Os jovens são desordeiros, agressivos,
preguiçosos, membros de gangues e experimentam estimulantes sintéticos com
alguma frequência. Quem atualmente lida com jovens em escolas sabe como este
aspecto outrora fictício da obra de Otomo materializou-se nos dias de hoje. Neste
sentido, Akira funciona como uma denúncia sobre os males do materialismo e da
falência espiritual, e um angustiado aviso sobre o que está por vir. É claro
que Otomo poderia dizer-nos que esta falência moral é parte de uma “evolução”.
E eu respeitosamente ousaria discordar.
Dito de modo mais preciso, em minha interpretação Akira é uma denúncia contra o
artificialismo (3). O palco sobre o qual se desenvolve toda a história de Akira, a cidade de Neo-Tokyo, é pura
ciência, pura arquitetura, pura engenharia, pura tecnologia. Não há espaço para a natureza,
exceto em imagens nostálgicas que só existem na memória e consciência dos
personagens. Em suma, Neo-Tokyo é puro artifício. Talvez seja este o sentido
mais forte da cápsula estampada na jaqueta de Kaneda, pois a cápsula é um símbolo do artifício humano. Alguns certamente
interpretam a imagem da cápsula como uma referência ao fato de que Kaneda e sua
gangue eram mostrados como usuários eventuais de estimulantes sintéticos nas primeiras páginas de Akira. Mas devemos nos
lembrar que o uso recreativo que os mesmos fazem daqueles estimulantes é
mostrado apenas no mangá, e a jaqueta com a cápsula é utilizada apenas no filme,
onde em nenhum momento Kaneda faz uso recreativo de drogas sintéticas. Além
disso, mesmo no mangá, a atitude de Kaneda e sua gangue em relação ao uso das
drogas sintéticas é no mínimo ambígua, um misto de receptividade e desprezo
pelas mesmas. (No número 5 do mangá editado pela Marvel e, aqui, no Brasil,
pela Editora Globo, Kaneda diz que por uma “questão de princípio”, “nenhum
motoqueiro que se preza deixa um bando de
viciados chutar seus traseiros”). Consequentemente, a imagem da cápsula na
jaqueta de Kaneda não poderia ter conotação de apologia, pois isso me pareceria
um tanto conflitante com a personalidade do próprio personagem que, apesar de
marginalizado, sustenta desprezo por “viciados”.
Soma-se a isso o fato de que no
mesmo mangá, drogas em cápsulas não são utilizadas apenas para fins
recreativos; são utilizadas também pelo governo (muito mais do que pelos
delinquentes da gangue de Kaneda) por razões científicas. O Coronel (outro
personagem-chave de Akira) e seus
cientistas utilizam cápsulas como um meio de obter controle sobre as crianças
com poderes paranormais (Kiyoko, Masaru e Takashi) e, posteriormente, para obter
controle sobre Tetsuo. Entretanto, o desenvolvimento de Akira nos mostra que este desejo de controle sustenta-se sobre
pressupostos ilusórios, pois as crianças se tornam extremamente dependentes das
cápsulas e, no caso de Tetsuo, a dependência química conduz à revolta e a um
comportamento extremamente destrutivo, justamente o que o Coronel sempre buscou
obsessivamente evitar. A ciência falhou, e o artifício não garantiu ordem
alguma; apenas impôs o caos.
Logo, a imagem da cápsula só pode
significar o artificialismo decadente que perpassa toda a história de Akira e seus personagens. É como se
Otomo, através da cápsula estampada na jaqueta de um de seus protagonistas,
quisesse nos passar toda esta mensagem não tanto de forma explícita ou
autoexplicativa na sua própria história, mas pela via da imagem, da intuição
estética. A mesma mensagem – isto é, a onipresença do miserável artificialismo
em nossas vidas futuras – é apreensível a partir do icônico pôster da animação
de 1988 (vide acima), com cabos ou fios elétricos de Neo-Tokyo subindo pelo corpo de Kaneda, que ali parece ser tão artificial quanto a cidade na qual vive, pois está preso à mesma. É neste artificialismo que consiste a tragédia
de todos os personagens centrais de Akira, e que explica em grande parte a
decadência moral dos mesmos – decadência moral que é cuidadosamente equilibrada
por Otomo pelos vários feitos heroicos de alguns deles (Kaneda, Key, o Coronel,
etc.), como um atestado implícito da imortalidade do livre-arbítrio e da
consciência moral humana, que insistem em sobreviver mesmo em meio à
degeneração da vida social dominada pela artificialidade e seus inseparáveis
amigos, o materialismo e a mesquinhez. É neste ponto, e não na tese de uma
“evolução” garantida por uma força arracional, que encontro algum raio de
esperança na história de Akira.
A saga de Kaneda
Em consonância ao último tópico, devo ainda acrescentar que, em minha interpretação, um outro dos pontos centrais de Akira (e talvez este seja o ponto central, ao menos pra mim) é o amadurecimento e redenção espiritual de seu mais icônico personagem, Kaneda.
Inicialmente um jovem superficial líder de uma gangue de motociclistas, posteriormente, Kaneda, orientado pelo espírito de Lady Miyako e de Kiyoko, vivencia nas últimas páginas da história uma experiência mística dentro da força liberada por Akira e Tetsuo, onde é revelado a ele que a existência não se restringe à matéria e à programação pressuposta por teorias científicas (Miyako diz a ele: "não acha que a adaptação ao meio ambiente é uma explicação simplória demais para definir essas evoluções, que são maiores e mais demoradas?"), e que em meio a crises agiganta-se o significado do amor fraterno. Por isso, quando Kaneda questiona: "esse poder de vocês só serviu para criar infelicidade neste mundo?", Kiyoko responde: "não... ele nos deu companheiros". Pouco depois, a imagem de um infante Tetsuo reaparece e docilmente pergunta a Kaneda: "você quer ser meu amigo?". Extremamente emocionado e, pela primeira vez, com lágrimas nos olhos, Kaneda diz "quero! eu sou seu amigo...".
Com isso, pode-se dizer que Kaneda completou definitivamente sua transição da menoridade para a maioridade. Ao emocionar-se tão profundamente com o sentimento de amizade, Kaneda demonstrou que o ponto gravitacional de sua existência já não era mais ele próprio: o egoísmo juvenil havia sido substituído pelo senso de fraternidade que, afinal, orienta a vida verdadeiramente adulta. Agora, percebendo que a totalidade do mundo não se restringe à matéria e ego, poderíamos dizer que Kaneda toma consciência de sua condição existencial de ente que vive naquilo que Eric Voegelin chamou de intermediação (metaxy) entre o polo mundano e o polo eterno da existência; entre o imanente e o transcendente; entre o temporal e o eterno.
Após esta experiência, Kaneda não poderia voltar a ser um líder de gangue de motocicletas que se regozija em brigas estéreis e que pilota, envaidecido, uma moto cheia de adesivos de grandes marcas. Ele já não poderia mais satisfazer-se somente com o polo imanente da existência, onde prevalece apenas a mesquinha vontade de triunfos materiais e egoístas. Sob um novo horizonte espiritual mais amplo, Kaneda transfere seu ímpeto da aventura egoísta de líder de gangue de motociclistas para um movimento de reestruturação e independência de toda uma nação, o "grande império de Tokyo". Ele ainda pilotará sua icônica motocicleta, mas agora com aparência mais austera e destituída de adesivos; ele ainda protagonizará conflitos com autoridades, mas agora não lutará apenas por ele próprio, e sim por toda uma nação. A conclusão de Akira, onde Kaneda tem uma visão das almas imortais de seus amigos, Tetsuo e Yamagata, sela seu novo estado de consciência que, por sua vez, consiste em reconhecer-se como ente que vive no ponto de tensão entre o temporal e o eterno (4).
Notas
(1) Ernst Föhr, em um livro tão interessante quanto desconhecido, ao menos aqui no
Brasil (Naturwissenschaftliche Weltsicht
und christlicher Glaube, Editora Herder,
Freiburg, 1974), escreve na página 106: “A palavra evolução vem da palavra
latina ‘evolvere’ = revirar. Evolução significa diferenciação, desenvolvimento
para formas de vida superiores [...]. A evolução das formas de vida é uma
esplêndida indicação à teleologia, que o espírito do Criador [...] inseriu como
lei na natureza viva”. A tese de Föhr é no sentido de que só se admite evolução
se se admite um telos na natureza; e
um telos só pode ser admitido sob a
pressuposição de uma inteligência dirigente, um Criador: “pode-se aceitar
totalmente um desenvolvimento superior à humanidade, se se presume, como nós,
que a vontade eficiente do Criador estritamente teleológica tem dirigido a
evolução” (p. 106).
(2) Há ainda a inscrição "good for healthy, bad for education", que aparece nas costas da jaqueta de Kaneda junto à imagem da pílula. Entretanto, é importante notar que essa inscrição não é mostrada no mangá e nem no filme. Ela aparece apenas em alguns esboços ou imagens promocionais, aparentemente produzidas por Otomo. De resto, sua presença é mais intensa em desenhos não oficiais, em sua maioria feitos por fãs.
(3) Na edição 4 da edição da Editora Globo para Akira, há uma tradução de algumas reflexões de Katsuhiro Otomo. Estou assumindo que a tradução está correta. Nesse texto, Otomo diz: "eu adoro aqueles lugares vivos, transpirando humanidade (...). Há um tempo, tentei, da forma mais natural possível, arranjar um local adequado para três rochas. Mas não importava onde eu as pusesse, pois não obtinha sucesso. Foi somente quando as joguei para trás que consegui colocá-las no lugar. Talvez seja essa minha aversão pelo artificialismo (...)".
(4) No fim das contas, talvez Akira possa ser definida como uma tentativa de Otomo de articular, a seu modo, esta tão viva quanto incompreensível experiência humana da tensão entre os dois polos da existência: o temporal e o eterno. Sobre a condição humana definida em termos de vivência na metaxy (intermedialidade) entre o temporal e o eterno, recomendo a leitura do livro Anamnese, de Eric Voegelin, principalmente os dois últimos textos da obra.
Boa tarde professor, tenho 45 anos e o porque eu não sei, só fui assistir Akira no dia de Hoje. Obrigado pelo texto explicativo e completo o anime. Algum atendente de locadora poderia ter feito isso comigo naquela época, rsrs. Gostei tanto do texto que vou ler os livros recomendados. Obrigado e parabéns pelo conhecimento.
ResponderExcluirMuito obrigado! Espero que tenha gostado da versão em quadrinhos. Abraço
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