sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Liga da Justiça, um EXCELENTE filme de super-heróis que luta contra um vilão terrível: o automatismo do pensamento supostamente crítico



Durante a semana passada, assisti na companhia de minha esposa o filme da Liga da Justiça, em seu dia de estreia aqui no Brasil. Quando o filme começou, confesso que estava um pouco pessimista. Nada do que eu tinha visto nos trailers havia realmente me empolgado. Mas – talvez mais por sensação interna de dever do que de autêntico entusiasmo – fui assistir ao tão aguardado filme. E, contrariando minhas modestas expectativas, devo dizer: foi uma experiência incrível! Empolguei-me como há muito tempo não me empolgava com filme algum. Liga da Justiça mostrou-se um perfeito filme para o gênero de Super-heróis, totalmente apropriado para todas as idades (como deve ser um filme de super-heróis): nele há bons diálogos, cenas de ação empolgantes, humor equilibrado, sólidas interpretações, um vilão inequivocamente malvado, excelente trilha sonora (seja bem-vindo novamente, mr. Elfman!) e a boa e velha luta do bem contra o mal.

Saí da sala de cinema decidido a voltar mais uma vez, no fim daquela mesma semana. Minha esposa também adorou. Todo o público que estava conosco no cinema parecia ter sentido a mesma coisa. As pessoas vibravam com os momentos de ação, riam nos momentos de humor... Enfim, quando o filme terminou, a primeira coisa que pensei foi “a Warner ganhou os críticos”. Quando retornei para ver o filme mais uma vez, quatro dias depois, a sala estava completamente cheia (nunca tinha visto tanta gente em uma sala de cinema) e, novamente, a reação do público foi extremamente calorosa. Aliás, eu jamais havia testemunhado este nível de interação positiva do público da sala de cinema em relação ao filme exibido. Não vi isso na exibição de nenhum filme dos Vingadores, ou do X-Men, ou do Capitão América, ou da série Star Wars, ou mesmo de qualquer filme da própria Warner. Posso dizer que presenciei, em duas oportunidades, o absoluto sucesso do filme da Liga da Justiça em relação ao seu público consumidor.

Por estes motivos fiquei extremamente surpreso, mais tarde, com a receptividade negativa por parte dos críticos profissionais em relação a este trabalho. E o detalhe de maior importância é que a maioria destas críticas (talvez todas elas) direcionam-se a problemas que podemos encontrar em QUALQUER filme do gênero, mas que só ganharam peso ao serem compartilhados pelo filme da Liga.

Exemplos: muitos de seus detratores afirmam que a história é simplória, previsível. Bom, eu não acho que quando estes mesmos críticos foram assistir o primeiro filme dos Vingadores, tenham imaginado por algum momento que a) todos os heróis da trama não iriam se unir durante o clímax da história, ou que b) os Vingadores, unidos, seriam derrotados pelo vilão no final. Os super-heróis são um gênero previsível. Sempre sabemos por que os conflitos começarão (normalmente por causa de algum vilão megalomaníaco), e como terminarão (os heróis vencerão o vilão megalomaníaco). A estrutura de uma história de super-heróis é como a estrutura harmônica de um blues: altamente previsível e simples. O que será determinante na aferição do nível de qualidade de um blues ou deste tipo de história é o modo como esta estrutura comum e repetitiva será preenchida. E neste quesito, Liga da Justiça acertou em cheio, uma vez que a citada estrutura fora preenchida por bons diálogos (com frases que já são marcantes), excelentes cenas de batalha (que, de tão impressionantes, podem ser assistidas várias vezes), belíssima trilha sonora, etc.

Também criticou-se o vilão (Steppenwolf, ou Lobo de Estepe). Disseram que foi um vilão fraco, muitas vezes no sentido de ser simplista (sim, pois provavelmente para estes críticos inteligentíssimos, os desejos de dominação mundial de Loki, Ultron ou Caveira Vermelha eram certamente dotados de uma complexidade e profundidade psicológica dignas dos personagens de Tolstoi). Alguns também apontaram uma falta de carisma ou personalidade (acusação bastante injusta, em minha opinião). Mas devo lembrar estes críticos de que o reconhecidamente patético e desajeitado Kylo Ren não foi um obstáculo para que os mesmos rendessem os maiores elogios a Star Wars: o despertar da força. Alegou-se também que Steppenwolf fora composto por computação gráfica (CGI) de qualidade ruim. Não entendi muito bem esta parte. Achei Steppenwolf graficamente tão convincente quanto o Hulk (e eu havia assistido Thor: Ragnarok tinha apenas uma semana), isto é, não prejudica o filme, mas dá pra perceber com facilidade que se trata de um desenho, e não de uma criatura real. Então se o telespectador não teve problemas com o Hulk, ou com o Ultron, ou com inúmeros monstros que apareceram nos filmes do Thor, então ele também não terá problemas com Steppenwolf.

Alguns disseram, em um costumeiro tom de altivez, que há “furos” na narrativa (ó!). É claro que há  falhas de roteiro (que eu não consegui perceber, porque estava ocupado me entretendo com o filme)... sempre há. Mas, por exemplo, quando Rey “despertou a força” em meio a uma luta com Kylo Ren (citemos novamente Star Wars: o despertar da força...), realizando, assim, em alguns poucos segundos aquilo que Anakin e Luke levaram tempos e duro treinamento para conseguir, poucos ousaram criticar, ou rebaixar as notas do filme em razão disso.

Obviamente, não estou dizendo que Despertar da força, ou Vingadores, ou Thor etc. são filmes ruins. São todos bons filmes também. O que quero dizer é que Liga da Justiça não pode deixar de ser considerado um bom filme apenas porque possui algumas inconsistências, uma vez que as citadas inconsistências parecem ser endêmicas ao gênero super-herói/fantasia/ficção científica.

Para não dizer que absolutamente nada me incomodou neste filme, devo citar a cena de abertura do filme, com o Superman. A ideia da cena em si foi muito boa. Mas fica difícil não perceber que Henry Cavill sofreu mudanças de computação gráfica na face, para apagar o infame bigode que o ator teve de conservar por força de um contrato com o estúdio de Missão Impossível 6. Fiquei incomodado ao assistir. Porém, é preciso notar: esta cena (que talvez tenha menos de 1 minuto de duração) foi a única em que qualquer alteração neste sentido tenha sido perceptível (e mesmo assim, arrisco dizer que tenha sido perceptível apenas para pessoas com familiaridade com a face de Cavill). Em todas as outras cenas com o Superman, não pude notar nenhum traço de alteração decorrente de imagens geradas por computador.

E isso nos leva a um outro ponto deste texto: um fenômeno social já antigo, mas hoje mais evidente, que é a falta de autonomia intelectual das pessoas. Pensar por si mesmo exige coragem, porque te torna diretamente responsável por suas próprias opiniões. Mas simplesmente seguir uma opinião formada – principalmente se a tal opinião formada tenha sido produto gerado por supostos “peritos” no assunto – torna tudo mais fácil, pois se você estiver errado, basta deslocar seu oponente para o verdadeiro gerador da sua opinião. “Vá reclamar com ele... eu apenas repeti o que ele disse”. Portanto, a heteronomia intelectual (que basicamente consiste em pensar com a cabeça dos outros) é, em primeiro lugar, um sintoma de fraqueza moral, porque denuncia o medo da responsabilidade proporcionada pelo pensamento livre e espontaneidade do julgamento pessoal. É muito mais fácil viver como animal de rebanho do que como um predador independente.

Pois bem: de maneira bastante inusitada, o filme da Liga da Justiça demonstra este triste e persistente sintoma social, pois é sem número o caso de pessoas que manifestam ódio e desprezo por este filme com base na opinião de críticos. E a maior prova disso é o caso dos efeitos de CGI sobre o rosto de Cavill. Muitas pessoas têm declarado que TODAS as cenas com o Superman foram arruinadas graças a este recurso, quando na verdade, conforme já dito, apenas a cena inicial do filme (e que dura alguns poucos segundos) sofre deste problema. Estes patéticos “críticos” por derivação chegam mesmo a cometer a gafe de postar, em redes sociais, imagens do rosto de Cavill, mas que foram tiradas de outros momentos do filme onde não há qualquer sinal de deformação por CGI, como se alterado o rosto estivesse. E não faltam membros e pretensos membros do mesmo rebanho para expressarem suas críticas, com ar de sapiência e superioridade, ao rosto do ator, que na verdade aparece inalterado na imagem que é objeto de chacotas. Portanto, são pessoas que preferem seguir opiniões formadas de antemão a tirar conclusões com base nas próprias percepções e experiências. São autômatos do pensamento. Rebanho.

Claro que há muitos “haters” que procuram se beneficiar desta situação. Hoje há pessoas que escolhem Marvel ou DC como se fossem times de futebol. Mas sem o automatismo do julgamento, estes “haters” teriam vergonha de manifestar suas opiniões. Se o fazem, fazem-no porque se sentem fortemente amparados sobre a opinião de terceiros.


Por isso concluo que o grande vilão contra o qual o filme da Liga da Justiça deve lutar é o automatismo do pensamento daqueles petulantes e impotentes que se supõem críticos independentes. Esta mentalidade de rebanho já provocou consequências severas. Afinal, o filme da Liga faturou até aqui muito menos do que o esperado, graças a esta infundada epidemia de calúnia virtual. Mas isso não é nada comparado às consequências sociais mais graves que resultam, de tempos em tempos, daqueles que alienam a própria capacidade de percepção em nome da covardia – porque têm medo de assumir a responsabilidade que decorre da liberdade intelectual – e da vaidade – pois no fundo também desejam aparentar esperteza e sofisticação diante de seus verdadeiros mestres e condutores.

sábado, 4 de novembro de 2017

Algumas palavras sobre Jack Kirby e sua série "Superpowers"




Parabéns à equipe da Panini por trazer aos leitores brasileiros os dois volumes da série "Superpowers", trabalho do grande Jack Kirby (com a valiosa colaboração dos roteiristas Joey Cavalieri e Paul Kupperberg, e do desenhista Adrian Gonzales).


Enquanto lia as histórias, não pude evitar de pensar no quanto a boa fama de Kirby é merecida. O homem realmente tinha uma imaginação inigualável. Seus trabalhos  sempre nos trazem esta sensação de que estamos presenciando um evento fantástico e épico. Sua arte e escrita são dotadas daquele tipo de simplicidade e magia capaz de oferecer-nos momentos de salutar alegria, tão vitais ao fortalecimento e renovação de nosso espírito. Seus heróis trazem consigo um senso de força e grandeza que contrasta imensamente com o tom prosaico que marca as aventuras e personalidade dos personagens nos quadrinhos atuais, sobretudo daqueles que hodiernamente são produzidos pela Marvel Comics, hoje inundada por escritores de tendências contraculturais, os quais, cegados por certas ideologias da moda, investem sua imaginação em ataques à cultura do Ocidente e de sua própria pátria. Os heróis de Kirby protagonizam épicos; comparados a eles, os heróis envenenados pelo Zeitgeist do momento - e que por isso são retratados como portadores das deformações e carências tipicamente humanas - apenas atuam em ridículos romances. 



Em "Superpowers", não encontraremos super-heróis dúbios, sinais de relativismo moral, ou tentativas patéticas de doutrinação política. "Superpowers" é tudo aquilo que os quadrinhos de super-heróis jamais deveriam deixar de ser: histórias simples e agradáveis, onde os heróis representam o bem, e os vilões, o mal. Aqui, os heróis não se  comprometem com ideologias particulares, mas com valores morais universais. Portam-se como verdadeiros guardiões das mais profundas e elementares convicções éticas da humanidade, e, neste sentido, podemos dizer que este trabalho de Kirby presta sua modesta contribuição à preservação das "coisas permanentes" (segundo a expressão do poeta T.S. Eliot). 



E, em tempos onde o próprio significado de "arte" sofre distorções (para acomodar as predileções funestas de certos espíritos doentes), tem-se aqui um exemplo de verdadeira obra artística, porque expressa à sua maneira o sublime e o belo em vez de exibir grosseiramente neuroses particulares, e por isso tal obra pode ser igualmente apreciada por pessoas de todas as idades.



Meu veredito: "Superpowers" é leitura obrigatória a todos os fãs do super-heroísmo clássico, e recomendada mesmo àqueles que, embora não sejam apaixonados pelo gênero, apenas desejam obter satisfação a partir do contato com uma boa história em quadrinhos.