sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
O Homem do Amanhã deve abandonar seu passado?
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
Liga da Justiça, um EXCELENTE filme de super-heróis que luta contra um vilão terrível: o automatismo do pensamento supostamente crítico
sábado, 4 de novembro de 2017
Algumas palavras sobre Jack Kirby e sua série "Superpowers"
sábado, 16 de setembro de 2017
ALERTA! Até mesmo o G.I.Joe caiu nas mãos dos SJW's.
O G.I. Joe é carregado de uma simbologia que até hoje expressa estas ideias, tornando a famosa franquia de personagens militares da Hasbro uma espécie de anacronismo dentro da atual cultura pop (e quando digo que o G.I.Joe é anacrônico, estou fazendo um elogio). Nestas circunstâncias, é de se imaginar que a atual esquerda radical norte-americana - caracterizada por um intenso anti-americanismo e sentimento de repúdio aos valores tradicionais do Ocidente, e que se expressa nas atitudes histéricas de grupos radicais como o ANTIFA e os SJW's (Social Justice Warriors) - correria dos produtos relacionados ao G.I.Joe como o diabo foge da cruz. Mas esta suposição mostrou-se ingênua, porque subestima a obsessão que essa gente tem por hegemonia cultural. E por que digo isso? Por causa das atitudes do atual escritor da série de quadrinhos do G.I.Joe, Aubrey Sitterson.
Não concordei com a ideia de demitir Card, e não concordo com a ideia de demitir Sitterson. Muitos podem contra-argumentar dizendo que são casos diferentes, uma vez que Card sequer teve a chance de escrever o Superman (isto é, Card fora chutado do título do Superman por preconceito, no sentido mais estrito do termo, uma vez que seus opositores já o odiavam antes mesmo de conhecer seu trabalho como escritor), enquanto que os fãs do G.I.Joe estão fartos de Sitterson há tempos, em razão das reformulações absurdas e constrangedoras que ele de fato incorporou aos seus heróis favoritos. Este argumento faz todo o sentido. Mas creio que em um mundo livre quem deve decidir quem será demitido não é o puritanismo de fãs, mas o mercado. Que Sitterson fique no gibi do G.I.Joe, enquanto estiver vendendo. Se estão incomodados, basta não comprar as revistas. Isso forçará a demissão de um mal escritor, por meio da própria lei do mercado. Por outro lado, se o título sob o comando de Sitterson continuar vendendo, isso significa que muitos leitores do G.I.Joe estão gostando dos rumos impostos por Sitterson, e portanto, eles se merecem. O mercado é justo. Mas exigirmos histericamente que alguém perca o emprego apenas porque não gostamos das opiniões desta pessoa, é simplesmente patético.
Além disso, é infrutífero atacar Sitterson. Ele é apenas mais um indivíduo escrevendo tolices no twitter e destruindo o entretenimento de leitores de quadrinhos. Ele é um mero efeito, um joguete em uma longa cadeia causal. Deve-se denunciar e combater a causa primeira disso tudo. O problema está na base ideológica que inspira as palavras e ações destes indivíduos. Portanto, é esta base ideológica que deve ser denunciada, exposta, e atacada. Apenas pressionar uma empresa para que ela demita um funcionário é, além de moralmente baixo, totalmente inútil.
(4) Muitos sites e blogueiros de esquerda estão defendendo Sitterson, dizendo que é absurdo exigir a demissão de alguém por motivos ideológicos. Gostaria de saber onde estava a maioria destes heroicos defensores da liberdade de expressão, quando a pessoa atacada era Orson Scott Card.
sábado, 19 de agosto de 2017
Afinal, o que é o Justiceiro de Garth Ennis: homenagem ou calúnia à ideia de justiça retributiva?
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
Captain America on Charlottesville
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Jornada nas Estrelas, a série clássica: o aspecto antiutópico da utopia futurista
Portanto, creio que um dos grandes temas da fase clássica seja a própria noção de natureza humana, a qual, conforme ensinam-nos alguns episódios, não deve ser sacrificada em prol de nenhum ideal de sociedade perfeita, de nenhuma política temporal infantilmente convertida em verdade salvífica. E esta exigência de preservação da natureza do homem não se deve a algum tipo de humanismo ingênuo que enxerga na humanidade um tipo de entidade perfeita. Ao contrário: reconhece-se a imperfeição inerente ao homem, cuja essência é eterna fonte de conflitos, mas também de liberdade e realizações.
Sim, Jornada nas Estrelas é um exemplo de fé no progresso da ciência; mas este progresso encontra seu limite na natureza do homem. Passo agora a expor e examinar criticamente o conteúdo de alguns episódios que demonstram um caráter profundamente antiutópico em meio à utopia idealizada por Gene Roddenberry.
Esta última observação é corroborada pela teoria de Eric Voegelin acerca da grande doença do homem moderno: sua incapacidade de permanecer na "metaxy platônica", que por sua vez significa a "intermedialidade" entre pólos que, embora contraditórios entre si, no entanto expõem "elementos na imutável estrutura da existência humana" (McALLISTER, 2017, p. 178). Em suma, a metaxy consiste no reconhecimento das tensões entre elementos contraditórios mas que constituem limites inerentes à realidade. Daí porque a modernidade é definida, por McAllister (2017, p. 45) - baseando-se nas lições de Voegelin - como "revolta contra a realidade". O homem moderno não suporta as contradições da vida humana, e por isso não as apreende como elementos intrínsecos e, portanto, indissociáveis de sua existência. Em sua ânsia por eliminar as contradições, ele deixa de compreender que são justamente estas contradições que, afinal, constituem o tecido de sua realidade, de sua realidade propriamente humana.
Landru é, portanto, um típico ideólogo (como Marx) revoltado contra a realidade e, neste sentido, o personagem capta a mentalidade e angústia do homem moderno. O antigo Aristóteles, por exemplo, apreendia com naturalidade a natureza intermediária (e, por isso, tensional) do homem, localizada entre as bestas e os deuses (Política, cap. 1, §9). Mas o homem moderno, com suas ambições ideológicas, em lugar de se resignar diante desta tensão que é limite imposto pelo real, busca transcendê-la como se fosse mero obstáculo e converte a tensão existencial em mera contradição dialética destinada a ser solucionada mediante artifícios igualmente dialéticos.
Neste processo, o ideólogo moderno acredita que as tensões inerentes à existência humana podem ser revogadas em favor de seu projeto utópico, que é a realização de seu paraíso mundano, sem perceber que, com isso, impõe à humanidade a maior das contradições, pois nenhuma realidade pode ser paradisíaca e mundana ao mesmo tempo. Consequentemente, pode-se dizer que o ideólogo moderno, tal como o personagem Landru ou o filósofo Marx, cegado por seu desejo de sanar todas as contradições sociais, na verdade acaba por gerar a pior e mais grotesca de todas as contradições.
“Semente do espaço” (“space seed”)
Episódio escrito por Gene L. Coon e Carey Willber
Geralmente apontado como um dos melhores momentos de Jornada nas Estrelas, o episódio “space seed” (“semente do espaço”) também destaca o aspecto antiutópico da série clássica relativamente aos devaneios de cientistas que sonham com o aperfeiçoamento da espécie humana.
Nesta história, Kirk e a Enterprise encontram à deriva do espaço uma antiga espaçonave (chamada de SS Botany Bay) cujos tripulantes estão em estado de animação suspensa em câmaras criogênicas. Um deles é retirado da câmara de animação suspensa, e transportado para a Enterprise. O que até esse momento não se sabia, é que este homem recém despertado era um dos últimos remanescentes de um notável evento ocorrido durante os anos 90 do século XX: as Guerras Eugênicas. Nesse período, uma nova raça de “super-homens” havia sido criada por cientistas. Mais inteligentes e mais fortes do que os seres humanos comuns, esses super-homens julgaram que poderiam melhorar o mundo através da unificação do mesmo por meio da imposição de uma ditadura administrada por eles próprios. O maior e mais perigoso destes ditadores foi Khan Noonien Singh. Ao ser derrotado no final das Guerras Eugênicas, Khan empreendeu fuga junto de seus asseclas mais próximos em uma nave espacial, precisamente a nave agora encontrada pela tripulação da Enterprise, sendo o tripulante recém despertado o próprio Khan. Enquanto Kirk e Spock tentam descobrir sua identidade, Khan já empreende um plano para dominar a Enterprise, e por muito pouco não alcança êxito.
Apesar de sofrer mudanças em aspectos marginais e meramente instrumentais (inteligência e força), em sua essência, isto é, em sua constituição volitiva ou caráter, Khan permaneceu bastante comum: vaidoso, egoísta e orgulhoso, o icônico vilão não transcendeu em nada aquilo que o filósofo Nietzsche chamou de “vontade de poder”. Suas motivações permaneceram ordinárias. Ele apenas dispunha de melhores meios para alcançar seus fins: estes últimos, entretanto, ainda eram idênticos àqueles cultivados mesmo entre os mais medíocres dos homens. Khan quer dominar... mas quem não deseja exercer sua quota de domínio? Justamente por Khan permanecer demasiado humano em suas motivações e em seu caráter, Spock pôde aplicar ao seu comportamento aquela fórmula extraída a partir da observação sobre a natureza humana: “habilidade superior gera uma ambição superior“. Como naquela lenda do “anel de Giges” que nos é contada por Platão (República, II, p. 359c), Khan é apenas um camponês que encontrou um objeto que lhe confere poder, e que por isso decide tornar-se rei através do assassinato. A diferença reside apenas no fato de que, em lugar de usar um objeto extrínseco como o anel da invisibilidade, Khan utiliza de seus atributos intrínsecos, sua própria força e inteligência cientificamente aumentadas, para satisfazer sua vontade de poder. As mudanças operam apenas no nível dos acidentes; a substância permanece a mesma. Por isso, aquilo que interpreto como o aspecto antiutópico da Série Clássica – a tese da imutabilidade da essência humana – pode ser resumido nestas palavras proferidas por Khan em seu diálogo com Kirk:
Sábias palavras. O único erro de Khan foi não ter se dado conta de que sua sagaz observação aplicava-se a ele próprio: iludido por seus privilégios instrumentais – força e inteligência – Khan não percebeu que sua essência – sua vontade – restou intocada mesmo pelas mais ousadas intervenções da engenharia genética.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de António de castro Caeiro. São Paulo: atlas, 2009.
_______. Política. Tradução de Nestor Silveira Chaves. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
McALLISTER, Revolta contra a modernidade: Leo Strauss, Eric Voegelin e a busca de uma ordem pós-liberal. Tradução de Túlio Borges de Oliveira. São Paulo: É Realizações, 2017.
VOEGELIN, Eric. História das ideias políticas: helenismo, Roma e cristianismo primitivo. Volume I. Tradução de Mendo Castro Henriques. São Paulo: É Realizações, 2012.