Habitualmente atribuímos a qualificação de "patético" a toda manifestação que tende a exagerar o pathos em detrimento de outros elementos (embora o sentido original da palavra fosse um pouco diferente). É por isso que há comovente beleza no choro tímido, quase envergonhado de si próprio, pois ele revela o exato oposto do patético exagerado, isto é: no choro tímido, expressa-se um profundo senso de proporção entre o inevitável sentimento de tristeza e o comedimento racional decorrente do senso de pudor, ou, para dizer tudo isso de modo mais simples, pode-se apontar no choro tímido um sinal externo da harmonia entre sentimento e razão. Aquele que chora timidamente revela com isso que possui emoções; afinal, ele chora, e o choro pressupõe emoção. Entretanto, revela igualmente seu caráter temperante, isto é, autodomínio racional. Em contraste, mostra-se perturbador ao espírito mais sensível qualquer exibição de choro histérico. Portanto, pode-se dizer que mesmo em nossos juízos estéticos manifesta-se o princípio aristotélico da mediania (isto é, a exigência de se permanecer no meio sem cair em qualquer dos extremos), ou o senso de harmonia platônico (segundo o qual a justiça decorre do funcionamento equilibrado entre as diferentes faculdades da alma). Consequentemente, flagra-se aqui a intimidade entre ética e estética, pois tanto o justo quanto o belo sustentam-se sobre uma ordem, uma proporcionalidade intrínseca ou, simplesmente, sobre o Logos*.
Um grande artista percebe isso, geralmente não de modo abstrato, mas de maneira intuitiva. A consequência será a de que sua arte se tornará a expressão estética da referida proporcionalidade intrínseca. Grande exemplo do que estou tentando dizer podemos encontrar no trabalho do brilhante desenhista Curt Swan. Analisemos a imagem abaixo, desenhada por Swan, e comparemos a mesma ao desenho feito por Phil Jimenez:
Arte de Curt Swan
Arte de Phil Jimenez
Aqui se percebe o quão grandiosa é a sensibilidade artística de Curt Swan. Quando um artista razoável como Phil Jimenez desenha o Superman chorando, ele reduz o Homem-de-Aço a uma criatura exageradamente patética, e por isso vulgar, cujo pranto histérico apenas denuncia uma alma fraca e melindrosa, a verdadeira expressão da ruptura com o Logos, que exige harmonia entre razão e emoção. Aos olhos do espectador sensível, o resultado não é comovente, mas constrangedor. Sentimos vergonha por este escandaloso "superman".
Mas quando o mesmo personagem chora através dos traços de Swan, o resultado é o oposto: miramos na face do herói a profunda melancolia de seu espírito, e sentimos que o mesmo é tão nobre quanto inevitavelmente esmagado pelo peso da tragédia e da culpa, e assim, aos olhos do espectador, o comedimento da razão e a doçura do sentimento encontram-se todos na mesma proporção. O Logos, rompido em Jimenez, está plenamente conservado em Swan.
Na verdade, graças ao incrível senso estético de Swan, o Superman é engrandecido perante o leitor, que agora não tem escolha senão emocionar-se diante do justo sofrimento do herói. E por que sabemos que seu sofrimento é justo? Muito mais do que pelas circunstâncias descritas na história, a arte fala por si, e nela contempla-se aquilo que chamamos há pouco de "choro tímido, quase envergonhado de si próprio", no qual é possível intuir o "profundo senso de proporção ou harmonia entre o inevitável sentimento de tristeza e o comedimento racional decorrente do senso de pudor".
A arte de Swan faz-nos sentir que, em seu Superman, não se trata de um espírito fraco e histérico, fragilizado pelo fardo do próprio temperamento, mas de um caráter forte, plenamente preenchido pelo equilíbrio e retidão do Logos, dotado de total proporcionalidade intrínseca, e que só se permitiria ao choro por causa do insuportável peso de uma terrível tragédia, e assim, o milagre acontece: a enigmática união, em uma mesma imagem, entre o pranto e a virtude, culpa e a nobreza, tragédia e heroísmo, e o sofrimento e a beleza.
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* Para o leitor que queira compreender melhor esta unidade entre proporcionalidade intrínseca e logos, recomendo a leitura das obras Pitágoras e o Tema do Número e Filosofia Concreta, ambas de Mário Ferreira dos Santos.
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