O texto abaixo, escrito por Chuck Dixon e Paul Rivoche, foi publicado no Wall Street Journal em 8 de junho deste ano (http://www.wsj.com/articles/dixon-and-rivoche-how-liberalism-became-kryptonite-for-superman-1402265792). Por concordar inteiramente com seu conteúdo, resolvi
traduzi-lo e publicá-lo no meu blog, Heros Invictus. Obs.: é de suma importância notar que os autores se utilizam da expressão "liberalismo" e "liberal" no sentido atribuído à palavra pelos norte-americanos, e que difere consideravelmente do liberalismo clássico nascido na Europa.
Como o liberalismo se tornou uma
kryptonita para o Superman
Um conto sobre o declínio dos quadrinhos
modernos ao relativismo moral
Por Chuck Dixon a Paul Rivoche
Na edição de número 900 da Action
Comics, Superman decide ir às Nações Unidas e renunciar sua cidadania
norte-americana. “’Verdade, justiça e estilo de vida americano’ – não é mais o
bastante”, ele diz desanimado. Esta edição, publicada em abril de 2011, é,
talvez, o exemplo mais dramático do declínio dos quadrinhos modernos ao
politicamente correto, ambigüidade moral e ideologia esquerdista.
Nós somos artistas de quadrinhos
e quadrinhos são nossa paixão. Mas, mais importante, eles têm inspirado e
formado milhões de jovens americanos. Nosso medo é o de que os jovens leitores
da atualidade estejam sendo mal servidos por um meio que frequentemente apresenta
heróis que fazem concessões no campo da moralidade ou que não são diferentes
dos criminosos que eles combatem. Com a ascensão do relativismo moral,
“verdade, justiça e estilo de vida americano” perdeu seu significado.
A história começa nos anos 30.
Superman, quando apareceu inicialmente nos primeiros gibis e depois no rádio e
na TV, não era apenas “capaz de saltar edifícios com um simples pulo”; ele
também era bom, justo, e maravilhosamente americano. Superman e outros
“super-heróis” como Batman faziam de tudo para distinguir a si mesmos de vilões
como Coringa e Lex Luthor. Superman até mesmo enfrentou a Alemanha nazista e o
Japão imperial durante a Segunda Guerra Mundial.
O Superman também realizou
cruzadas domésticas, sendo a mais famosa aquela contra a Ku Klux Klan. Um homem
familiarizado com a Klan, Stetson Kennedy, confrontou os produtores do programa
de rádio durante os anos 40 com alguns dos códigos secretos e rituais da Klan.
Os produtores do programa desenvolveram mais de 10 episódios anti-Klan, “The
Clan of the Fiery Cross”, que foram ao ar em junho de 1946. A oposição
inequívoca assumida pelo programa de rádio ao fanatismo reduziu nitidamente o
respeito de jovens americanos brancos pela Ku Klux Klan.
A família de um de nós, Paul
Rivoche, fugiu da Rússia Soviética. O fato de que os criadores do Superman,
Jerry Siegel e Joe Shuster, foram eles próprios imigrantes, inspirou Paul.
Superman era um tipo de imigrante, que veio de Krypton – um planeta “muito,
muito distante” – para a Terra. Paul cresceu no Canadá, mas ele quis retratar
por meio de sua arte e ilustrações a admiração pela América do Norte e Estados
Unidos. Um idealismo semelhante levou Chuck, o escritor em nossa equipe, aos
quadrinhos.
Nos anos 50, as grandes empresas
de publicação, incluindo a DC e aquela que mais tarde se tornaria a Marvel,
criaram o Comics Code Authority, uma associação de regulação que emitiu regras
como: “Crimes jamais devem ser representados de modo a criar simpatia pelo
criminoso”. A ideia por trás do CCA, que tinha uma estampa de aprovação na capa
de todos os gibis, era a de proteger o grande público daquela indústria –
crianças – de histórias que poderiam glorificar o crime violento, o uso de drogas
e outros comportamentos ilícitos.
Nos anos 70 (nossos primeiros
anos nesta indústria), ninguém realmente alterou a fórmula dos super-heróis. O
CCA mudou seu código para permitir “descrições complacentes do comportamento
criminoso [...] e corrupção entre funcionários públicos” mas apenas “na medida
em que seja retratado como excepcional e que o culpado seja punido”. Em outras
palavras, ainda existiam sujeitos bons e sujeitos maus. Ninguém se importava
com a preferência política de um artista se ele pudesse escrever ou desenhar
dentro do cronograma. Os quadrinhos eram uma irmandade que transcendia a política.
Os anos 90 trouxeram uma mudança.
A indústria enfraqueceu e eventualmente revogou a CCA, e os editores começaram
a evitar a contratação de artistas conservadores. Um de nós, Chuck, expressou a
opinião de que uma história aberta sobre AIDS não era apropriada para gibis
endereçados às crianças. Os editores rejeitaram a ideia e pediram para ele se
desculpar aos seus colegas apenas por tê-la expressado. Em seguida, Chuck
passou a ganhar menos trabalho para realizar.
Os super-heróis também mudaram.
Batman se tornou sombrio e ambíguo, um tipo de monstro infeliz. Superman se
tornou menos patriótico, culminando em sua decisão de renunciar à cidadania norte-americana
para que assim ele não fosse visto como uma extensão da política externa dos
EUA. Um novo código, menos explícito mas muito mais forte, substitui o antigo:
o código do politicamente correto e da ambigüidade moral. Se você discordasse
da maioria dos editores de esquerda, você seria silenciado.
O problema do politicamente
correto ultrapassa os quadrinhos tradicionais e se estende até às Graphic
Novels. Estes trabalhos, a despeito do título, não são todos fictícios. Por
anos uma Graphic Novel de “A People’s History of American Empire”, de Howard
Zinn, tem sido ensinada nas escolas americanas. Há até mesmo uma versão
cartoonizada de “Working”, de Studs Terkel. Che Guevara, a cubano marxista e
revolucionário, é o assunto de muitas Graphic Novels, assim como a anarquista
Emma Goldman.
Porém, nem todos os quadrinhos e
Graphic Novels papagueiam a linha progressista. “Maus” e “Persepolis” venderam
muitas centenas de milhares de cópias, e são ensinadas nas escolas. Nenhum
destes grandes sucessos pode ser chamado de “esquerda” ou de “direita”. “Os
Incríveis”, da Pixar, são uma parábola sobre o mal que há em rebaixar grandes
pessoas porque elas exibem grandes talentos. Podemos, se quisermos, encontrar
conteúdo libertário nos “X-Men”. Entretanto, a mensagem geral que a maioria dos
quadrinhos modernos tem enviado é – em um mundo moralmente ambíguo largamente
criado pelo império americano – “olhe para a esquerda”.
Isso seria menos importante se os
quadrinhos estivessem desaparecendo. Mas eles estão mais populares do que
nunca, como evidenciado por sucessos de Hollywood como “X-Men”. Um terço dos
professores que têm o inglês como segunda língua nos EUA usam quadrinhos. Se
você duvida do futuro desta mídia, olhe o Amazon, que comprou a ComiXology, uma
companhia que traduz gibis para e-books. Ou tente ir neste mês de julho à
Comic-Com, a convenção anual de quadrinhos.
Como um colega nosso escreveu
recentemente na comicsbeat.com, quando se trata de compensar o atraso em
relação à esquerda nos quadrinhos modernos, “os conservadores estão fazendo o
curso de recuperação”. Como nossa contribuição àquele curso, nós dois investimos
anos na Graphic Novel de “The Forgotten Men”, a nova história da escritora
conservadora Amity Shlaes para a Grande Depressão. Mas o nosso é apenas um
livro. Nós esperamos que os conservadores, os livre-comerciantes e, sim, os
liberais que apóiam a livre expressão, juntem-se a nós. É hora de retomar os
quadrinhos.
Sr. Dixon é autor de centenas de quadrinhos e ajudou a criar
personagens como Bane e The Spoiler (Salteadora). Sr. Rivoche foi co-criador de Mr. X e ilustrou dezenas de capas do Batman, Superman e
Homem-de-Ferro.
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