É bastante provável que não exista maior rivalidade nos quadrinhos do que aquela entre Super-homem e Capitão Marvel. E isso ocorre tanto por razões míticas (relativas à mera esfera dos quadrinhos) quanto por razões reais (que transcendem os quadrinhos).
Pela primeira classe de motivos, a rivalidade existe por se tratar de dois dos mais poderosos seres jamais imaginados nos quadrinhos; mas não só por isso: o fato é que seus poderes (e até mesmo aparência) são muito similares. Ambos voam, possuem incrível velocidade, invulnerabilidade e força física monstruosa; e exercem esses poderes no mesmo nível, praticamente. Contudo, é quase impossível para a maior parte dos fãs de quadrinhos deixar de questionar: “mas quem é o mais forte?”.
A segunda classe de motivos tem sua razão direta na primeira classe. Ocorre que o Super-homem é o primeiro super-herói dos quadrinhos, cuja estréia, na revista Action Comics, data de junho de 1938. Diz-se que o sucesso foi instantâneo, surgindo a partir disso a chamada “Era de Ouro” dos quadrinhos. Quase dois anos depois, surgiria o Capitão Marvel, em fevereiro de 1940, “pegando uma carona” no sucesso do Super-homem. Logo as semelhanças entre os dois personagens ficaram evidentes, e a competição pela popularidade ficou acirrada. Foi quando a National Periodical (atual DC comics), que detinha os direitos sobre o Superman, resolveu interpor uma ação judicial face a Fawcett Comics, alegando ser o Capitão Marvel um plágio do Super-homem. A batalha judicial estendeu-se de 1941 até a primeira metade da década de 50, quando a Fawcett Comics acabou desistindo da luta nos tribunais, em razão da perda de popularidade que o próprio Capitão Marvel sofreu a partir do final da década de 40. A empresa decidiu que o personagem já não era lucrativo o suficiente para motivar o pagamento das custas judiciais e, desistindo do pleito, acabaram por concordar em não mais publicar o Capitão Marvel, e ainda indenizar a autora da ação.
Esclarecido estes pontos, agora é possível entender o quão significativos são os embates ocorridos entre estas duas majestosas lendas, ainda que num mundo fictício.
Pode-se dizer que o primeiro grande encontro entre os dois heróis não envolveu o Capitão Marvel que conhecemos, mas uma outra versão do mesmo: o Captain Thunder. Essa luta ocorreu na revista Superman n. 276, de junho de 1974. Realmente não sei por que a DC não colocou o próprio Capitão Marvel pra enfrentar o Superman, sendo que a mesma DC já detinha os direitos sobre o personagem e havia começado a publicá-lo em 1972. De qualquer forma, optaram por utilizar um personagem praticamente idêntico.
Capitão Thunder tinha os mesmos poderes que Marvel. Seu alter-ego também era um garoto, mas chamado Willie Fawcett. Contudo, seus poderes haviam sido cedidos por um velho Shaman, e derivavam diretamente da natureza (como por exemplo, a “dureza” do diamante, e o “poder” do tornado). Para se transformar, Willie tinha que gritar “Thunder!”, ao invés de “Shazam!”. O uniforme era exatamente o mesmo, com exceção do símbolo no peito. Enfim, as semelhanças são tão grandes, que parece lícito a qualquer leitor considerar aquela uma autêntica batalha entre Superman e Capitão Marvel. Na história – escrita por Elliot S! Maggin e desenhada por Curt Swan – o Capitão Thunder aparece em Metrópolis após confrontar, em outra Terra, a “Liga do Mal”. Contudo, ele havia sido corrompido pelos malfeitores da “Liga do Mal”, passando a agir como criminoso. Não demoraria até se confrontar com o Super-homem. A batalha é épica, com direito a super-socos e arremessos de montanhas; e os dois se mostram bastante equiparados.
Mas o primeiro encontro “verdadeiro” aconteceria em Justice League of América n. 137, de dezembro de 1976, na história “When Titans Clash!”, de E. Nelson Bridwell, e arte de Dick Dillin. Contudo, é preciso admitir que, a despeito do sensacionalismo produzido pela belíssima capa (uma das minhas favoritas!), a luta entre os dois heróis deixa a desejar.
A história é o seguinte: o vilão King Kull usa kriptonita vermelha para alterar o caráter do Super-homem, deixando-o extremamente furioso. Capitão Marvel aparece então como a última esperança: ele provoca o Super-homem, e quando os dois estão prestes a se chocar, Marvel grita “Shazam!”. Como é sabido, a magia é uma das fraquezas do Super-homem, embora a intensidade desta “fraqueza” seja bastante variável conforme o escritor. Nesta história, por exemplo, o raio não chega a ferir o Super-homem, mas apenas destrói os efeitos maléficos da kriptonita vermelha. No processo, Marvel se transforma em Billy Batson em pleno vôo, e o Super-homem tem que salvá-lo. O “confronto” durou menos de 1 página, mas nem por isso deixou de ser um momento clássico.
Êêêê... liberou! Posso comentar.
ResponderExcluirSobre o Capitão Thunder, no Brasil ele se chamou Capitão Corisco. Cada letra da palavra "Corisco" estava relacionada a um elemento natural e dava um poder a ele.
C-Centelha=> Velocidade
O-Onda=> Tenacidade
R-Rocha=> Dureza
I-Índio Uncas=> Coragem
S-Sol=> Poder
C-Condor=> Vôo
O-Oráculo=> Sabedoria
Olha o trabalho que os tradutores tinham na época. Alias o capricho em geral era bem maior, inclusive nos roteiros.
Talvez essa estoria tivesse o mesmo espírito daquela com o capitão Strong, um personagem que imitava o marinheiro Popeye. Desconfio que depois ele inspirou o Bilbo atual.
O que eu não sabia é que o recurso básico do Marvel na luta final deles no Reino do Amanhã não era original. :(
ResponderExcluirOlá Norrin!
ResponderExcluirObrigado pela informação. Eu já havia ouvido falar do C. Corisco, mas como nunca havia lido a tradução brasileira daquela história, eu jamais o relacionei com o Capitão Thunder.
Quanto ao subterfúgio do raio mágico, de fato isso SEMPRE fora utilizado, senão efetivamente, ao menos cogitado como hipótese (como na história "Superman vs Shazam", de G. Conway). Waid apenas reutilizou a ideia. O mais surpreendente é que, justamente a 'arma secreta' do Marvel, letal ao Superman, tenha revertido tantas vezes a favor do próprio Superman.
Por incrível que pareça "Capitão Trovão" (Captain Thunder) foi o primeiro nome do Capitão Marvel em Dezembro de 1939. Mas como já havia um personagem com nome similar, Captain Terry Thunder, a Fawcett Publications mudou pra "Captain Marvelous" que foi encurtado pra Captain Marvel pouco antes da estreia em Whiz Comics #2 de Fevereiro de 1940 (a estreia original foi numa revista especial conhecida como ashcan para assegurar trademark, logomarca e nomes). O nome "Willie" tem quase a mesma sonoridade que "Billy" e Fawcett era a editora original do Capitão Marvel. A sonoridade de "Shaman" também lembra "Shazam". O cinto que o Capitão Trovão usa nessa edição do Superman também é similar ao usado pelo Capitão Marvel em suas primeiras aparições na Fawcett. Pra terminar em "Power of Shazam" #27 é mostrado que o Capitão Trovão é outra versão do Capitão Marvel.
ResponderExcluirMuito boas suas observações, Márcio! Em especial, agradeço pela informação sobre Power of Shazam n. 27. Abraço
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