domingo, 31 de outubro de 2010

Grandes Batalhas dos Quadrinhos: Super-homem versus Capitão Marvel, 3ª Parte


A batalha mais épica entre as duas lendas só ocorreria em 1998, em Reino do Amanhã (Kingdom Come). Com desenhos de Alex Ross e história de Mark Waid, esse é não somente o mais belo embate entre os dois campeões do heroísmo, mas, em minha opinião, é o momento mais épico de toda a história dos quadrinhos. “Reino do Amanhã” se passa num futuro possível, dominado por anti-heróis irresponsáveis (em verdade, uma clara crítica às tendências dos anos 90). O Super-homem, decepcionado com a humanidade acolhedora do método “anti-herói”, decide retirar-se, e muitos heróis da velha guarda seguem o mesmo exemplo. Porém, um acontecimento catastrófico no Kansas chama a atenção do Super-homem, que então decide voltar para tentar guiar a humanidade mais uma vez. Sua volta inspira o retorno de toda a Liga da Justiça; contudo, é gerada uma violenta tensão entre os velhos heróis e os jovens anti-heróis. No entanto, a grande ameaça ao Super-homem é Lex Luthor (agora fingindo-se de filantropo): pois o coringa de Lex é ninguém menos que o então adulto Billy Batson, agora totalmente obediente graças aos subterfúgios psicológicos e fisiológicos de Lex Luthor. O clímax da história é justamente o combate final entre os dois peso-pesados, Superman e Capitão Marvel. O início da luta é apoteótico: Superman é atacado sem saber pelo quê, e quando se dá conta, está aos pés de um sorridente Capitão Marvel.


A luta se segue entre os dois, em meio a uma gigantesca batalha entre heróis e anti-heróis. A postura do Super-homem é mais defensiva: a todo momento procura convencer Marvel de que este deve cooperar, ajudá-lo a conter a guerra entre as diferentes gerações. Mas suas súplicas são inúteis: Marvel apenas responde com socos, que jogam Superman a metros de distância.

Quando Superman finalmente parece obter algum controle sobre a situação, disparando a visão de calor enquanto força um diálogo, Marvel então resolve apelar: grita “Shazam!”, e se afasta na velocidade de Mercúrio. O raio mágico acerta em cheio Superman, que se ajoelha agonizante. Com um sorriso sádico, Marvel continua a invocar o raio mágico, acertando o Super-homem tantas vezes, a ponto de este começar a sangrar.


Finalmente, Superman reage e, logo após ouvir novamente o nome “Shazam”, movimenta-se em super-velocidade, conseguindo paralisar Marvel, impedindo-o de se afastar do raio. Resultado: Capitão Marvel retorna a forma de Billy Batson, ficando à mercê do Super-homem.
Confesso que, em termos de quadrinhos, até hoje nada me impressionou mais do que a história de Kingdom Come. Pra mim, ela representa o ápice do heroísmo, e justifica por si só o meu fascínio por essas duas figuras: é que somente Super-homem e Capitão Marvel poderiam protagonizar um evento tão grandioso. 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Grandes Batalhas dos Quadrinhos: Super-homem versus Capitão Marvel, 2ª Parte

Em 1978, na revista All-New Collectors' Edition #C-58, há um dos combates mais longos entre Superman e Capitão Marvel, e um dos poucos realmente conclusivos.


Com história de Gerry Conway, e arte de Rich Buckler e Dick Giordano, os dois heróis mais poderosos dos quadrinhos se enfrentam em razão de um plano do feiticeiro chamado Karmang. Karmang planeja destruir a Terra-1 (lar do Superman) e a Terra-S (lar do Capitão) e, para tanto, é necessário antes destruir os dois heróis. E que maneira melhor senão jogando-os um contra o outro? Com a ajuda de Adão Negro e da entidade conhecida como Quarrmer – que havia tirado uma parcela dos poderes do Super-homem, na edição 234 e ss. de “Superman” (1971) – Karmang consegue corromper o Super-homem e Capitão Marvel... e a luta entre os dois tem início, na Terra-1. E que surra leva o pobre Capitão Marvel! Nesta história, a superioridade do Superman é tão notória, que até mesmo o “super-sopro” chega a jogar Marvel a alguns metros. Em outro momento, uma “simples” explosão sônica provocada pelo grito do Super-homem consegue afetar o Capitão Marvel. Como última alternativa, Marvel chega a cogitar aplicar o truque do raio mágico sobre o Superman. O mago Shazam então intervém no pensamento de Marvel, e diz que é necessário que a luta continue. Finalmente, Superman ataca Marvel com extrema brutalidade, e Marvel cai desacordado. Ao ver Marvel aparentemente morto, Super-homem cai em desespero e sua sanidade retorna. Então os dois heróis se juntam contra o verdadeiro inimigo.



A desculpa criada por Gerry Conway para a vergonhosa surra do Capitão Marvel, é que este último ficaria enfraquecido na Terra-1. 


Outra luta marcante aconteceria em 1984, no título “All-Star Squadron”, n. 36 e n. 37.



Só que aqui o Capitão Marvel enfrentaria o Super-homem da “Terra Paralela”, pertencente à Sociedade da Justiça da América, e atuante em plena segunda guerra mundial. Nesta história – escrita por Roy Thomas – o Capitão Marvel é tirado da Terra-S pelo próprio Adolf Hitler, graças à sua tecnologia nazista. Marvel é separado de Billy Batson, e se torna um super soldado nazista. No primeiro encontro entre Superman e Capitão Marvel, este último sai vitorioso. Os dois trocam golpes ao longo de 3 páginas e, por fim, Marvel aplica um soco extremamente poderoso que deixa Superman tonto, no chão. Embora ele não tenha ficado completamente desacordado, a vitória foi claramente do Capitão Marvel.

O choque foi tamanho para o Super-homem, que ele passou boa parte da edição seguinte (# 37) meio perturbado. Mas já na edição 37 os dois se enfrentariam novamente – embora de maneira mais breve – e dessa vez para salvar a sede do parlamento inglês. Capitão Marvel fora enviado por Hitler para que jogasse uma bomba extremamente letal sobre o parlamento inglês, mas Superman chega a tempo para interceptá-lo. Contudo, muito traiçoeiramente, Marvel dá um ponta pé na bomba antes da luta começar; assim, a bomba segue velozmente em direção ao parlamento. Superman então age rápido: aplica um soco em Marvel (que, a julgar pela fala do Super-homem – “pasted him one...” – fica temporariamente fora de combate) e voa para deter a bomba. Com a ajuda do Lanterna Verde (Alan Scott) e da Mulher-Maravilha, ele consegue explodir a bomba antes que ela detone o parlamento, impedindo, assim, a concretização do plano de Hitler. 


No entanto, esta vitória do Superman foi extremamente tímida se comparada àquela do Capitão Marvel, registrada na edição anterior. Obviamente, o domínio de Hitler sobre o Capitão Marvel não dura muito, e ele logo se une à Sociedade da Justiça para lutar contra os nazistas.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Grandes Batalhas dos Quadrinhos: Super-homem versus Capitão Marvel, 1ª Parte

É bastante provável que não exista maior rivalidade nos quadrinhos do que aquela entre Super-homem e Capitão Marvel. E isso ocorre tanto por razões míticas (relativas à mera esfera dos quadrinhos) quanto por razões reais (que transcendem os quadrinhos).

Pela primeira classe de motivos, a rivalidade existe por se tratar de dois dos mais poderosos seres jamais imaginados nos quadrinhos; mas não só por isso: o fato é que seus poderes (e até mesmo aparência) são muito similares. Ambos voam, possuem incrível velocidade, invulnerabilidade e força física monstruosa; e exercem esses poderes no mesmo nível, praticamente. Contudo, é quase impossível para a maior parte dos fãs de quadrinhos deixar de questionar: “mas quem é o mais forte?”.

A segunda classe de motivos tem sua razão direta na primeira classe. Ocorre que o Super-homem é o primeiro super-herói dos quadrinhos, cuja estréia, na revista Action Comics, data de junho de 1938. Diz-se que o sucesso foi instantâneo, surgindo a partir disso a chamada “Era de Ouro” dos quadrinhos. Quase dois anos depois, surgiria o Capitão Marvel, em fevereiro de 1940, “pegando uma carona” no sucesso do Super-homem. Logo as semelhanças entre os dois personagens ficaram evidentes, e a competição pela popularidade ficou acirrada. Foi quando a National Periodical (atual DC comics), que detinha os direitos sobre o Superman, resolveu interpor uma ação judicial face a Fawcett Comics, alegando ser o Capitão Marvel um plágio do Super-homem. A batalha judicial estendeu-se de 1941 até a primeira metade da década de 50, quando a Fawcett Comics acabou desistindo da luta nos tribunais, em razão da perda de popularidade que o próprio Capitão Marvel sofreu a partir do final da década de 40. A empresa decidiu que o personagem já não era lucrativo o suficiente para motivar o pagamento das custas judiciais e, desistindo do pleito, acabaram por concordar em não mais publicar o Capitão Marvel, e ainda indenizar a autora da ação.

Esclarecido estes pontos, agora é possível entender o quão significativos são os embates ocorridos entre estas duas majestosas lendas, ainda que num mundo fictício.

Pode-se dizer que o primeiro grande encontro entre os dois heróis não envolveu o Capitão Marvel que conhecemos, mas uma outra versão do mesmo: o Captain Thunder. Essa luta ocorreu na revista Superman n. 276, de junho de 1974. Realmente não sei por que a DC não colocou o próprio Capitão Marvel pra enfrentar o Superman, sendo que a mesma DC já detinha os direitos sobre o personagem e havia começado a publicá-lo em 1972. De qualquer forma, optaram por utilizar um personagem praticamente idêntico.


Capitão Thunder tinha os mesmos poderes que Marvel. Seu alter-ego também era um garoto, mas chamado Willie Fawcett. Contudo, seus poderes haviam sido cedidos por um velho Shaman, e derivavam diretamente da natureza (como por exemplo, a “dureza” do diamante, e o “poder” do tornado). Para se transformar, Willie tinha que gritar “Thunder!”, ao invés de “Shazam!”. O uniforme era exatamente o mesmo, com exceção do símbolo no peito. Enfim, as semelhanças são tão grandes, que parece lícito a qualquer leitor considerar aquela uma autêntica batalha entre Superman e Capitão Marvel. Na história – escrita por Elliot S! Maggin e desenhada por Curt Swan – o Capitão Thunder aparece em Metrópolis após confrontar, em outra Terra, a “Liga do Mal”. Contudo, ele havia sido corrompido pelos malfeitores da “Liga do Mal”, passando a agir como criminoso. Não demoraria até se confrontar com o Super-homem. A batalha é épica, com direito a super-socos e arremessos de montanhas; e os dois se mostram bastante equiparados.


Por isso, Super-homem induz Capitão Thunder a dizer a palavra mágica, para que volte a ser Willie Fawcett. Deduz que o garoto pertence a uma outra Terra, e que só o Capitão Thunder, com sua sabedoria natural, poderia descobrir o caminho de volta. Assim, pede a Willie que se transforme de novo. Mas desta vez Super-homem consegue imobilizá-lo até que recupere a razão. Ao final, Capitão Thunder compreende a situação e, proferindo a palavra “Thunder”, consegue retornar a sua dimensão.

Mas o primeiro encontro “verdadeiro” aconteceria em Justice League of América n. 137, de dezembro de 1976, na história “When Titans Clash!”, de E. Nelson Bridwell, e arte de Dick Dillin. Contudo, é preciso admitir que, a despeito do sensacionalismo produzido pela belíssima capa (uma das minhas favoritas!), a luta entre os dois heróis deixa a desejar.

A história é o seguinte: o vilão King Kull usa kriptonita vermelha para alterar o caráter do Super-homem, deixando-o extremamente furioso. Capitão Marvel aparece então como a última esperança: ele provoca o Super-homem, e quando os dois estão prestes a se chocar, Marvel grita “Shazam!”. Como é sabido, a magia é uma das fraquezas do Super-homem, embora a intensidade desta “fraqueza” seja bastante variável conforme o escritor. Nesta história, por exemplo, o raio não chega a ferir o Super-homem, mas apenas destrói os efeitos maléficos da kriptonita vermelha. No processo, Marvel se transforma em Billy Batson em pleno vôo, e o Super-homem tem que salvá-lo. O “confronto” durou menos de 1 página, mas nem por isso deixou de ser um momento clássico.