segunda-feira, 7 de outubro de 2019

O clássico First Blood como metáfora da vida




John Rambo é apenas um sujeito solitário trilhando seu próprio caminho. E então um xerife aparece e simplesmente decide interferir na vida do viajante. “Por que me provoca?”, Rambo pergunta. E a resposta vem gradualmente na forma de perseguição, humilhação e violência. Rambo é forçado a se defender, e resiste bravamente. Mas no final, entrega-se, enquanto é conduzido à prisão pelas autoridades que o perseguiram por motivos frívolos.

Eis a mensagem do clássico First Blood: não importa o quanto tentemos ficar longe de problemas, o quanto nos esforcemos para apenas seguir nosso próprio caminho... sempre haverá aquelas pessoas cruéis e levianas que trarão os problemas até você, embora você não tenha contribuído em nada para os mesmos. A vida e certos indivíduos que preenchem-na guardam grande disposição e boa vontade quando se trata de trazer-nos problemas imerecidos.

Nossos esforços para evitá-los de nada adiantarão, pois pessoas assim virão ao seu encalço apenas porque isso as diverte de algum modo. Aliás, esse é o sentido da expressão “first blood” no contexto da história de Rambo: o personagem não derramou o “primeiro sangue”, ele não iniciou o conflito; ele apenas reage a uma perseguição imerecida. Essa é também, segundo a minha forma de ver, a principal diferença entre os dois maiores personagens interpretados por Sylvester Stallone no cinema, o boxeador Rocky e o soldado Rambo: o primeiro luta e resiste para conquistar; o segundo, para defender-se. 

Mas o que fazer em relação a pessoas como essas, ávidas por derramar o “primeiro sangue”? Pessoas cujo ideal de diversão é a humilhação, a violência, o deboche e a provocação? Não há opção: temos de resistir e lutar. E esta luta se estenderá... pois estes odiosos adversários gratuitos se acumularão ao longo de seu caminho e em suas tentativas de fuga. Resta-nos apenas nos confortar pelo pensamento de que neste exercício de luta e resistência consiste toda a dignidade no viver. 

Até que a luta termina... não porque vencemos, mas porque no final somos vencidos pelo desânimo e cansaço. E agora resta-nos apenas nos entregarmos, e desfrutarmos de uma nova dignidade, a dignidade da sábia resignação diante do fato irresistível,  enquanto trilhamos aquele último caminho, não mais escolhido, mas imposto — a morte. E este é o resumo da vida humana. 




P.S.: Last Blood é um filme cuja mensagem é a de negação de indulgência a criminosos cruéis. Só por isso, já o considero um excelente filme.