sábado, 16 de setembro de 2017

ALERTA! Até mesmo o G.I.Joe caiu nas mãos dos SJW's.



 Minha infância foi dominada por duas coisas: super-heróis e Comandos em Ação. Este último foi o nome dado pela empresa Estrela à famosa franquia G.I.Joe. Os heróis militares da franquia eram admiráveis, tanto quando mostrados no desenho animado produzido pela Sunbow, quanto em suas versões de action figures, que normalmente vinham lacradas em cartelas que continham belíssimas imagens desenhadas pelo gênio Hector Garrido. Tomemos o exemplo de Flint (o "oficial combatente" em sua versão comercializada aqui no Brasil pela Estrela).



Nesta imagem está representada toda a essência, todo o espírito dos valorosos Comandos em Ação: força, disposição, bravura, coragem. Principalmente esta última, reconhecida desde Platão como uma das quatro virtudes cardeais, intrínseca ao guerreiro, e que durante a Segunda Grande Guerra o brilhante general Patton tentou extrair, inutilmente, de um soldado covarde, ao esbofeteá-lo. Percebe-se também nesta imagem toda aquela atmosfera de orgulho e otimismo que caracterizavam os EUA no período liderado pelo presidente Ronald Reagan, quando aquela nação havia reassumido, sem qualquer falsa modéstia, a ideia de um destino, que seria sua missão histórica: a conservação da liberdade do Ocidente diante do autoritarismo que vinha do leste europeu, cuja expressão máxima era o socialismo internacional da União Soviética.

O G.I. Joe é carregado de uma simbologia que até hoje expressa estas ideias, tornando a famosa franquia de personagens militares da Hasbro uma espécie de anacronismo dentro da atual cultura pop (e quando digo que o G.I.Joe é anacrônico, estou fazendo um elogio). Nestas circunstâncias, é de se imaginar que a atual esquerda radical norte-americana - caracterizada por um intenso anti-americanismo e sentimento de repúdio aos valores tradicionais do Ocidente, e que se expressa nas atitudes histéricas de grupos radicais como o ANTIFA e os SJW's (Social Justice Warriors) - correria dos produtos relacionados ao G.I.Joe como o diabo foge da cruz. Mas esta suposição mostrou-se ingênua, porque subestima a obsessão que essa gente tem por hegemonia cultural. E por que digo isso? Por causa das atitudes do atual escritor da série de quadrinhos do G.I.Joe, Aubrey Sitterson.

Sitterson pertence a esse seleto e exótico grupo de norte-americanos que publicamente se diz socialista - mas um socialista moderno, mais incomodado em fazer o mea culpa por ter nascido branco, e nos EUA, do que em resolver problemas ligados à má divisão do capital(1). Ainda mais estranho é o fato de que ele se diz fã do G.I.Joe, mas assim que começou a trabalhar na franquia, esforçou-se no sentido de mudá-la radicalmente. E até onde eu sei, só desejamos alterar aquilo que nos incomoda, não aquilo que amamos.

Ele simplesmente ignorou os três grandes líderes (Hawk, Duke e Flint), para colocar a personagem Scarlett na liderança. As histórias perderam seu tom militar, e se tornaram mais infantis, onde os adversários são criaturas exóticas, como dinossauros e insetos gigantes. O G.I. Joe também deixou de ser americano para se tornar um grupo internacionalista, que "pensa e age globalmente", conforme as palavras da líder Scarlett (o que viola o clássico slogan “a real american hero”, estampado nas cartelas das action figures desde 1982). 




 
G.I.Joe clássico.                                                                                                        G.I.Joe SJW


Os fãs se irritaram e conflitos no Twitter e em outros meios de comunicação começaram. Aparentemente se divertindo com a situação, Sitterson resolveu transformar o soldado Salvo (um personagem de design brutal e agressivo) em uma mulher negra e obesa. Afinal, o importante é ser inclusivo. Os fãs odiaram, e os conflitos continuaram. A essa altura, Sitterson - utilizando-se de técnicas comuns aos Social Justice Warriors(2), em cujo grupo ele se encaixa - começou a acusar os fãs da franquia de serem "intolerantes", “contrários à diversidade e às minorias” etc. Neste contexto, vale mencionar que personagens femininas, como Cover Girl, Lady Jaye e a própria Scarlett, estão bastante masculinizadas nos traços estilo mangá de Giannis Milonogiannis. É estranho como pessoas que advogam com tanta paixão pela causa da "inclusão", escolhem converter todas as mulheres em seres andróginos, como se quisessem expulsar toda manifestação de feminilidade de seus trabalhos.

 Salvo clássico

Salvo (ou Salva, ou Salvx... eu sei lá) SJW

Outro episódio lamentável ocorreu quando uma edição fora publicada com uma capa explicitamente homossexual para comemorar o orgulho gay. Mas o pior não era o estilo, mas a qualidade artística do trabalho, que é realmente muito ruim. Além disso, sejamos honestos: o G.I. Joe não é gay. Representá-los como gays seria tão insensato e ofensivo aos fãs quanto representar Apollo e Midnighter, heróis homossexuais do Stormwatch, como heterossexuais. Trata-se de uma violação do conceito dos personagens. Por este motivo tão simples, os fãs do G.I.Joe protestaram, e Sitterson acusou-os de "homofóbicos" (é claaaaro!).

O fuzileiro naval Gung-Ho e os motociclistas Dreadnoks representados pelo desenhista Ed Luce, na infame "capa gay" do G.I. Joe. Os fãs odiaram. Para Sitterson, eles estão sendo preconceituosos.

A lógica de Sitterson é bem simples, e conhecida por conservadores há muito tempo (pois são as maiores vítimas dela): se você não concorda comigo, vou atribuir a você uma série de calúnias, e encaixá-lo em estereótipos odiosos. Devemos admitir: é uma estratégia e tanto, principalmente em um mundo dominado pela preguiça intelectual, onde a maioria das pessoas preferem apenas ler nomes a compreender argumentos. Em um mundo assim, meros caluniadores levam a vantagem.

A tensão já era grande. E Sitterson decidiu piorar tudo. No dia 11/09, aniversário da tragédia das torres gêmeas, Sitterson ofendeu os sentimentos patrióticos de seu público, ao escrever no seu Twitter que se tratava de uma "Self-centered National Tragedy remembrance from people who were not anywhere near New York City day" (isto é, ele associou o pesar coletivo sobre a tragédia com sentimentos egoístas, além de insinuar a falta de sentido na atitude de pessoas que lamentam o fato sem terem estado presentes em NY no dia do ataque).

Foi a gota d´água para os patrióticos fãs do G.I.Joe. Sites de expressão sobre a franquia como Yojoe.com e o blog Generalsjoes escreveram notas de que não mais iriam comentar as publicações da editora IDW, enquanto Sitterson trabalhasse para ela. Muitos outros fãs passaram a se manifestar incansavelmente nas redes sociais contra Sitterson, o que está ocorrendo até agora. Por outro lado, Sitterson conseguiu apoio do site Bleeding Cool e Mary Sue. Neste último, principalmente, os fãs foram veementemente atacados, taxados de “extremistas de direita”, e de todos os outros lugares-comuns que acompanham este nome. A própria franquia como um todo fora atacada, sob a acusação de “ser um gibi militar que glorifica o exato oposto da inclusão”, e por isso Sitterson estaria apenas tentando aumentar o nível de representatividade nas histórias. Difícil não perceber o quanto o autor do texto desconhece o universo do G.I.Joe, que sempre contou com personagens femininas (sempre muito fortes, como a própria Scarlett e Lady Jay) e de outras etnias (temos personagens negros como Roadblock, Stalker e Doc; asiáticos como Quick Kick e Storm Shadow; nativos-americanos, como Spirit e Airbourne), e até portadores de deficiências físicas (como o mudo Snake Eyes).

Mas agora vamos ao segundo ponto de toda esta história, e que me irritou profundamente: a atitude ingênua de alguns fãs que, infelizmente, parecem expressar a tendência de um número muito maior.

Conversei com alguns deles pelo Facebook, e a maioria se incomodou mortalmente quando eu decidi fazer críticas aos posicionamentos políticos de Sitterson. Um fã alegou que o debate não pode ser político, e com isso ganhou apoio de outras pessoas. Meu Deus. Infelizmente, ninguém avisou a estas crianças grandes e que falam muito bonitinho, que Sitterson e seus amigos tornaram o debate político, e sem pedir o consentimento de ninguém. Isto é: Sitterson veio armado com facas para o combate, mas as crianças com quem falei insistem em enfrentá-lo com mãos vazias. Afinal, atitudes como essa geram belas palavrinhas de ordem no facebook. 

E qual a raiz desta hostilidade às denúncias ao modus operandi político de Sitterson? Pelo que pude perceber, em parte alguns se identificam com esse posicionamento (embora não tenham gostado do progressivismo do autor aplicado a seus heróis)(3) em parte, alguns realmente não querem misturar políticas a este assunto.

Eu consigo entender este último posicionamento, mas ele é ingênuo. Lutar contra um adversário explicitamente político, que se utiliza de uma desonrosa retórica política (embora tremendamente eficiente), sem denunciar estes mesmos artifícios, alegando apenas que ele "escreve mal" ou que "não respeita a essência dos personagens", é como enfrentar de mãos vazias um adversário fortemente armado, conforme já dito acima. Além disso, ignorar o elemento político no modo de pensar do adversário, quando este elemento político é fortemente constitutivo em sua personalidade e motivações, equivale a não compreendê-lo e, em geral, não combatê-lo de modo algum.

A ofensa aos sentimentos ligados ao 11/09 foi apenas a ponta do iceberg, uma simples consequência do anti-americanismo doentio de Sitterson. São as raízes ideológicas deste anti-americanismo que devem ser identificadas e denunciadas. Mas isso, estes fãs estranhamente educadinhos demais – apesar de estarem sendo massacrados publicamente pela retórica de Sitterson, do Bleeding Cool, Mary Sue e sabe-se Deus por quem mais – não ousam fazer, porque criticar publicamente as raízes ideológicas dos SJW’s exige colhões.

A boa medicina consiste em combater os sintomas de uma doença ao mesmo tempo em que se identifica e se combate sua causa. O curandeirismo primitivo, por outro lado, combate apenas os sintomas, sem se preocupar com a causa da doença. Estes fãs polidos do G.I.Joe são exemplos de curandeiros supersticiosos do debate público. E como curandeiros supersticiosos, estão destinados à prática de uma medicina fracassada.

É importante lembrar que muitos fãs do G.I.Joe perceberam isso, e tiveram a coragem de dizer publicamente que o simples fato de um socialista escrever histórias do G.I.Joe já é uma total incoerência. Opiniões assim podem ser lidas do fórum Hisstank, composto exclusivamente de fãs da franquia.

Há pessoas exigindo que Sitterson seja demitido. Exemplo disso é o bom canal do youtube Diversity & Comics, que realiza um trabalho notável e bastante importante quando se trata de denunciar as maquinações de autores ideologicamente orientados que buscam, mesmo através dos métodos mais sub-reptícios, converter quadrinhos dos heróis favoritos das pessoas em panfletagens políticas de baixíssimo nível. Já falei o que penso sobre autores serem demitidos por motivos semelhantes anos atrás neste mesmo blog, quando inúmeros leitores homossexuais organizaram um boicote e exigiram da DC Comics a demissão do escritor Orson Scott Card, quando este fora anunciado como novo roteirista do Superman. Motivo? Card era contra o casamento gay(4)

Interessante notar que, na oportunidade, os gays e seus simpatizantes conseguiram o que queriam. Nada escrito por Card sob o título do Superman fora publicado. Os fãs do G.I.Joe, por outro lado, estão reclamando desde o início do ano até o presente momento, sem alcançar resultados. Left wins; Right loses. Ah, peço perdão à ala polida de leitores do G.I.Joe por ofender seu puritanismo apolítico ao associá-los à “direita”. Foi um lapso.

Não concordei com a ideia de demitir Card, e não concordo com a ideia de demitir Sitterson. Muitos podem contra-argumentar dizendo que são casos diferentes, uma vez que Card sequer teve a chance de escrever o Superman (isto é, Card fora chutado do título do Superman por preconceito, no sentido mais estrito do termo, uma vez que seus opositores já o odiavam antes mesmo de conhecer seu trabalho como escritor), enquanto que os fãs do G.I.Joe estão fartos de Sitterson há tempos, em razão das reformulações absurdas e constrangedoras que ele de fato incorporou aos seus heróis favoritos. Este argumento faz todo o sentido. Mas creio que em um mundo livre quem deve decidir quem será demitido não é o puritanismo de fãs, mas o mercado. Que Sitterson fique no gibi do G.I.Joe, enquanto estiver vendendo. Se estão incomodados, basta não comprar as revistas. Isso forçará a demissão de um mal escritor, por meio da própria lei do mercado. Por outro lado, se o título sob o comando de Sitterson continuar vendendo, isso significa que muitos leitores do G.I.Joe estão gostando dos rumos impostos por Sitterson, e portanto, eles se merecem. O mercado é justo. Mas exigirmos histericamente que alguém perca o emprego apenas porque não gostamos das opiniões desta pessoa, é simplesmente patético.

Além disso, é infrutífero atacar Sitterson. Ele é apenas mais um indivíduo escrevendo tolices no twitter e destruindo o entretenimento de leitores de quadrinhos. Ele é um mero efeito, um joguete em uma longa cadeia causal. Deve-se denunciar e combater a causa primeira disso tudo. O problema está na base ideológica que inspira as palavras e ações destes indivíduos. Portanto, é esta base ideológica que deve ser denunciada, exposta, e atacada. Apenas pressionar uma empresa para que ela demita um funcionário é, além de moralmente baixo, totalmente inútil. 





(1) Como sinto falta dos socialistas mais ortodoxos. Ao menos eles se dedicavam a problemas realmente relevantes e concretos, como a inegável pobreza material existente neste mundo tragicamente desigual. A solução apontada se mostrou débil, mas o simples fato de se ocuparem com um problema social relevante já passa como uma grande virtude para os padrões de inteligência atuais.
(2) Sobre o significado dos SJW’s, ver meu texto publicado neste blog, em 5 de maio deste ano.
(3) Estes ficaram irritados comigo quando eu disse que ao menos podíamos extrair alguma lição de toda essa situação: como os SJW’s atuam criminosamente em relação aos conservadores, ao associá-los com ALT-Right, nazistas, etc. Fui chamado até mesmo de ignorante, apesar de que foram meus interlocutores que demonstraram uma ignorância atroz sobre o significado de conservadorismo, associando-o à alt-right e aos nazistas, e assim concordando com a retórica da qual agora eles próprios são as vítimas. E aqui tenho que fazer a mea culpa: este autor não imaginou que houvessem esquerdistas (inclusive radicais) entre os admiradores do G.I.Joe. Reconheço que foi ingenuidade minha realizar juízos apriorísticos a partir de raciocínios coerentes. Pois coerência é uma coisa que decididamente falta a estes tempos.
(4) Muitos sites e blogueiros de esquerda estão defendendo Sitterson, dizendo que é absurdo exigir a demissão de alguém por motivos ideológicos. Gostaria de saber onde estava a maioria destes heroicos defensores da liberdade de expressão, quando a pessoa atacada era Orson Scott Card.